quinta-feira, 28 de outubro de 2010

foto para um vinte e oito de outubro


do dia #08/10

Foi bem aqui que tudo começou. Não. Aqui foi aonde terminou. Tudo começou na esquina de baixo. Mas quero falar daqui, deste lugar indescritível. Ela gritava e me xingava como uma louca, ou como uma amante, ou como uma histérica ou como alguém que amava.

Sei lá, deve ser paranóia minha, mas aqueles gritos não eram meus, não me pertenciam. Eu só conseguia ouvir Janis Joplin no meu fone, ou seja, ela cantou Janis de um jeito maravilhosamente lindo. Puta que pariu, nunca alguém cantou Joplin no meio da rua pra mim. Nem se quer em ambiente fechado. Orgasmo. Mas senti as lágrimas, sabia que era o fim. Mas aquele orgasmo tomou conta de mim e por nada nessa vida eu tiraria os fones para ouvir palavras sinceras. Por nada nessa vida perderia um orgasmo setentista.

Como ela chorava. Chorava demais. E meu orgasmo era forte demais para se comover com lágrimas que logo não existiram mais. Perdi dois quilos. Ela engordou sete (e me culpou por oito). Não havia desculpas, não havia redenção. Fiquei imóvel e ao mesmo tempo em movimento. É como se meu corpo girasse com os ponteiros do relógio na linha do horizonte, procurando o nascer do sol do dia seguinte. De repente percebi um silêncio dela. Um grito da Janis. Uma morte minha.

Enfim resolvi falar. Enfim resolvi olhar. Enfim não tirei os fones. Olhei bem fundo e pedi perdão. Ela com olhar carnívoro, me olhou e pensou em tudo que poderia repetir, as palavras de calão alto que poderia dizer acabando com minha moral na época eleitoral. Mas não, ela ficou em silêncio.

Completei com um silêncio médio e poucas palavras: você é adorável, mas não suficiente. And when you walk around the world, baby you said you’d try to look for the end of the road, cry cry cry baby. Come on.

#10:14

Flutando no silêncio da dor, eu já não era o que chamava de “eu”. Espelhos se aproximavam e se afastavam. Meus olhos lacrimejavam o chá da noite anterior. Socos no que me cercava, gritos silenciosos e sangue espalhado pelo organismo.

É irritante quando a personalidade te inferniza e não te deixa dormir, te obriga aos cigarros e ao café e você fica parado, como uma ameba, sem entender, sem se mover, sem sentir.

O caminhão passou por cima do que eu chamava de alma e nem buzinou. Os faróis vivem apagados e minhas manhãs agora são lentas, paradas.

Me sinto estranho e com falta. Com sua falta, com minha falta. Sobrou massa no bolo e faltou recheio para divertir os olhos juvenis das nossas crianças.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

foto para um vinte e seis de outubro


10:06 #outubro quase no seu fim.

(...) muitos reclamam de saudades, tristezas, infelicidades. Eu só quero reclamar da falta. Se não fosse essa falta gigante na minha vida eu não estaria vomitando gírias e frases de outros olhos, de meus olhos, de minha ce_gueira.
Minha solidão se resumia naquela tarde. Frio, cigarros, café e logo uma garoa. Se ao menos chovesse de verdade eu seria obrigado a me recolher debaixo de algum telhado, uma proteção tercerizada, não sei ao certo, mas eu encontraria alguém mais para olhar. Mas cada gota que descia de sei lá onde, desta garoa de uma tarde de sábado me matava por dentro e me envolvia cada vez mais na minha solidão.

Eu beijei minha mão, senti meus pulsos, garganta e fígado. Ali era pura inocência, pura natureza. A tristeza divina bateu- me a porta.