segunda-feira, 29 de março de 2010

lembranças #


Diz- se dia especial. É, um dia como todos os outros, mas que te reprime por ser o único dia que você se sente no direito de dizer seu. O dia que se recebe votos de felicidades (ou não). Dia de lembrar- se dos amores paternais e as falsidades familiares. É, mas este, deste ano, o ano que completo minha felicidade particular, não foi simplesmente o mesmo dia e mês de ano diferente que nasci. Foi algo muito maior.

6:12 - desperta o rádio- relógio. O cara que sempre me acordou, continuava lá, pedindo aos corações solitários esperança na manhã de dezembro. Não, não ousei abrir os olhos, meu medo era maior. Meus medos eram piores que minhas certezas. Não tinha certeza o que poderia ver ao abrir meus olhos. Levantei meu queixo. Senti meus braços vivo, procurei respirar de forma que o começo de meu peito sentisse as minhas vibrações vindas do fígado. Abrindo os olhos, fui procurando meu corpo, e a primeira visão era de meus pés, e essa era minha certeza. A certeza de um pé vivo, de uma vida ainda não perdida.

Meus olhos seguiam todo o meu quarto: copos de birita ao chão, notebook debaixo da cama, livros cheios de anotação pelas páginas com algum tipo de vazio, e logo do meu lado, bem a frente do rádio relógio, três canecas, que na noite passada eram completos de café, café puro e extra- forte.

Não sei explicar como foi a sensação de missão comprida, do meu desejo de chegar aos 18. Enchi com meus sentimentos juvenis e pré- adultos três balões de cores significativas para meus pais, me tranquei no banheiro com a chave do veneno de meus lábios e preenchi todo aquele cômodo, aquele espaço que agora era só meu, de mais ninguém, de meus versos de “parabéns pra você”, sentado ao chão, com minha melhor cueca (aquela que não abusei de promiscuidade humana), acreditei que meu nome era feito de valores e dons domesticados e fiz a minha melhor festa de aniversário, minha comemoração particular, minha celebração do meu nome enfim estar completo. Naquele dia não houveram ligações, não havia forma. Todos meus meios de comunicação estavam desconectados de meu universo, não me senti mal, em nenhum segundo, talvez em alguns milésimos.

Não, não pensei nas pessoas que não lembraram de mim, apenas quando fui me deitar fui capaz de reconhecer, aceitar e gritar para meu organismo que sim, pela primeira vez, vi e senti eu lembrando de mim mesmo, em todos os tempos verbais e em todas conjugações desta língua tão falada por porcos e urubus.

Desta vez dormi sem excesso de café, desta vez dormi sem minha vodca, desta vez dormi comigo, fiz o melhor amor da minha vida e na manhã seguinte, às 6:12 estava ele lá, pedindo pra me levantar porque 6:13 já era atraso e 6:14 já era mais um dia perdido. Eu era o mesmo novamente, e eu teria que esperar mais trezentos e sessenta e cinco dias, ou menos, para um novo encontro com alguém que sou ou serei. Ou simplesmente me envergonhar ao receber uma festa surpresa dos que eu nem sei quem foram, o que são e o que poderiam ser.

Espero mais trezentos e sessenta e três dias ansiosamente. E o banheiro, - agora encontra-se em reformas.

domingo, 28 de março de 2010

uma pausa pro café.(ou para a vida)

Procuro esse sentimento tão necessário nas minhas coisas, já que na tuas coisas não consegui. Não é por culpa sua, você não é incapaz. Incapaz sou eu. Sou um ser, um ser- humano vulnerável a qualquer vento, e sei, e você também agora sabe, que vivo voando por aí. Não se culpe, e se puder não me culpe. A culpa é só um método seu para não acreditar na verdade. Nunca deu certo.

Você criou alguém que sempre quis abraçar e amar, e eu criei alguém que eu para poder chorar à quatro paredes. Enfim, de fantasia já bastava São Paulo. Espero que você saiba andar pelas ruas sozinho

sábado, 27 de março de 2010

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Sou meu tempo ócio desgastado, minha diversão perdida, meu prazer reaproveitado, sou meu rolê de segunda à segunda: de frente, de lado, de costas e na diagonal.



e você?

segunda-feira, 22 de março de 2010

#Postagem 223

Preciso de uma dose de vodca com duas pedras de gelo e um tanto de suor numa sala escura, cheia de calor humano, ou desumano.

Necessidade não é vontade (Leia repetidamente, e em voz alta).

O que eu quero eu já não sei.

Sei que abdiquei o amor e a dor. Aceitei o prazer, meus luxos e minhas palavras de escárnio. Escarrei suas vontades nesta tua pele de plástico; procurei sentir o que eu nunca senti na vida: - uma vaidosa liberdade de ser - e deixei o cd tocar até a última faixa, quando a coitada da vocalista grita e o amplificador explode (só para chamar atenção).

domingo, 21 de março de 2010

Às vezes é preciso parar (...)

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e enfim



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encontrar o silêncio,
a morte,
a alma,
e trocar de essência.

sexta-feira, 19 de março de 2010

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Essa manhã acordei bem. Não estava sujo muito menos lavado. Estava no meu estado mais seco e parado. Ainda não havia aberto meu olhos, que nem estavam tão vermelhos, não quanto ao resto do meu corpo. Lentamente fui descobrindo qual era o status do meu quarto, da minha vida, ou não, ou eu só estava acreditando numa mentira minha, uma mentira só minha, só pra mim e inteiramente em mim. Nada estava em seu devido lugar. Nem meu corpo. Ele amanheceu em cima de minha gaveta de meias e cuecas. Era um corpo suado, assexuado e virgem. Meu nariz não amanheceu sangrando como minhas manhãs normais. Tentei olhar pra mim. E ah. Este que se virava ao espelho atrás da porta não sou eu. É um outro, uma outra coisa que não sei o que é. Pode até ser que seja eu mesmo, mas um eu lírico desconhecido pelo leitor que não lê nem papel do pão, - volte sempre nunca me agradou. Se um dia agradou alguém esta frase escrota e cheia de falsidade é porque ela realmente não voltou. Aonde leva volte sempre todos os dias? À conta do dono rabugento da padaria, que não é português, é brasileiro mesmo. Entenda porque eu dispenso as sacolas simpáticas e capitalistas, sugadoras de suor humano.

Volto à cama que me esperou por tantos dias. Preciso conversar com ela, comigo e com você, talvez.

Preciso me internar com uma plaquinha de necessidade. Necessitar- me de algo que nunca vi e nunca senti, e se já, é uma coisa que não me recordo: o tão falado do eu mesmo, que nunca veio me encontrar.

segunda-feira, 15 de março de 2010

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Devo voltar a minha antiguidade clássica. Voltar a ser o monstro pensativo que eu era; monstro sensível; monstro que não pensa; que tenta filosofar sobre suas dores e amores. ou não.

domingo, 7 de março de 2010

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Encontro- me parado, congelado ao tempo. E o que me cerca são as balas perdidas; balas de ódio, balas de desprezo, balas de amor, de dor, de suor, de prazer. Balas, balas, balas. Estou enfileirado em um tiroteio de realidade, dentro de um corpo que não é meu, só aguardando a fatal bala me perfurar, seja minha cabeça, meu coração ou mesmo o dedo do meu pé. Eu tentei me mover, para quem sabe encontrar uma bala de morte, ou uma de vida, quem sabe. Procurei sair, mas uma pressão que vinha de todos os lados, desviando de todas as balas, não me deixou se quer mover o olho direito para a esquerda, não deixou nem eu piscar meus olhos, sentir vida dentro de minhas pupilas rabujentas que reclamam da vida dia e noite, hora após hora.

Sim, eu estava compeltamente morto. Se não foi isso eu estava inteiramente no meu estado de loucura total, ou de amor total, ou até, quem sabe, com quase toda a certeza de um vazio total. Eu não sei quem sou no meio do tiroteio: se sou bala, ódio, dor, amor ou vento.