sábado, 30 de maio de 2009

imprevisto

Chorei. Ou foi apenas um suor desesperado.

5:30, e desperta com a pior música do mundo. Já sabia que dali até a meia- noite meu inferno era inevitável. Fechei os olhos para tentar acordar novamente. Mas foi em vão.

domingo, 24 de maio de 2009

Sem Título às 13:42

Nunca pensei que acordar fosse tão difícil, pensou ela.

Acreditava em tudo que os mais velhos diziam, menos na noite; era algo lúdico demais pra ela, a noite funcionava como o amor, era mágico demais pra existir, perfeito demais pra se realizar em terra.

E já era 1:30 da manhã e ela ainda não acreditava. Ela passou a vida sem creer, ela foi como uma fogueira em tempos de são joão, só se queimava, nunca foi capaz de alcançar o distante, nunca sobreviveu mais de dois dias.

Ela era dividida, sempre foi. Ela só era ela em tempos modernos, em tempos de alegria, nunca sofreu, nunca sentiu gostos, nunca se queimou sozinha. Aliás, nunca se queimou. E quem não se queima não pode fazer parte desta brincadeira.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

observatório.

Chorava feito criança. Ainda era uma criança, inocente e sem malícia. Descia as ruas com pouca roupa, e pouco pensava o que os burgueses da vila iam dizer. Duas vezes sorriu ao atravessar a rua, quem viu o sorriso diz que não pertencia a mesma pessoa que deita na frente da igreja pra conversar com Deus. Era um sorriso imprópio. Na verdade todos sabiam que ela nunca foi ela mesma, nunca tomou conta de suas atitudes e de sua insustentabilidade. Se era inteligente, não posso afirmar; se era infeliz, também não hei de afirmar. Ela nunca foi, ela não é simplesmente nada.
Existe as mixiriqueiras das ruas que dobram e das ruas que seguem que comentam que cada dia é uma pessoa naquele corpo. Eu já não penso assim. Penso que é um psicológico afetado, afinal filha de lavadeira que nem ao menos sabe a diferença de uma camisa e uma calcinha, e sem pai desde o parto forçado na madrugada de 25 de dezembro.
Há aquelas que falam que determinadas pessoas nascem com partes do corpo virada à lua, e essa pobre moça que ainda nem nasceu. Falta- lhe o amor, a dor, a alegria, a bebida e o fumo. Ela ainda não havia nascido, mesmo com 22 anos.

domingo, 17 de maio de 2009

domingo

fugi algumas vezes. As outras nem tiveram grande importância. Mas ainda vivo fugindo. Não sei parar e não consigo me controlar em momentos de ânsia. Perco meus sentidos, até o sexto. Queria ouvir aquela música tão alta, e deixá- la repitir até que eu entre em nirvana total.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

#15/05

quando menor adorava ser amado e elogiado,
agora elogios são poucos e o amor é irrelevante.
não quero um amor feinho, nem um bonitinho;
quero paixão, calor e sentimento;
quero O amor, não um amor ímpar,
mas amor de filme norte- americano
daqueles que nunca se acaba.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

# 23:34

agradando, agradar o que já foi agradado;
agora podre, perdido e perecível;
agrado então o que não agradaram no século passado,
simplicidade do simples que sorri;
ingratidão contínua e insatisfeita;
beijo então a alma jamais beijada;
escarro a alma boa, alma má e alma moral.

agora paro, depois parto e me policio
minhas sensações mais sensatas;
procuro meu maior silêncio, sútil e sarcástico;
ele grita,
ele gorfa,
ele gruda;
meu silêncio é seu, meu agrado é teu,
e minha alma lacrei.

domingo, 10 de maio de 2009

Debaixo dágua

Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar

Mas tinha que respirar

Debaixo dágua se formando como um feto
sereno confortável amado completo
sem chão sem teto sem contato com o ar

Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Debaixo dágua por enquanto sem sorriso e sem pranto
sem lamento e sem saber o quanto
esse momento poderia durar

Mas tinha que respirar

Debaixo dágua ficaria para sempre ficaria contente
longe de toda gente para sempre
no fundo do mar

Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia

Debaixo dágua protegido salvo fora de perigo
aliviado sem perdão e sem pecado
sem fome sem frio sem medo sem vontade de voltar

Mas tinha que respirar

Debaixo dágua tudo era mais bonito
mais azul mais colorido
só faltava respirar

Mas tinha que respirar
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia
Todo dia, todo dia
Todo dia

(Arnaldo Antunes)

sábado, 2 de maio de 2009

retrato entreaberto

Estou suspenso em meu quarto, olho pra baixo; vejo livros, dvds, alguns cds e uma vida jogada. Não existe mais vida, ou até exista, de uma perdição. Localizo algumas cartas, uns escritos; como fui capaz de me perder assim, preferia sorrir com uma "stand up comedy" minha vida toda (mas querido, é caro demais, e tarde demais, e as noites foram feitas para durmir como seus pais disseram). "As noites foram feitas para durmir", e porque ninguém dorme? Existem até aqueles que morrem de insônia, depressão, ou até opressão e repressão. Sinto, e logo vejo meu espelho; mas nada reflete nele, deve estar realmente tudo errado, aqui e do outro lado. Fico suspenso por mais algumas horas, ou até dias, porém agora estou nú. Me estranho.