segunda-feira, 29 de junho de 2009

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a flor mais bela é aquela a esquerda,
a que procuro sempre desejar um bom dia.
a que passo as tardes ao lado;
e que toda despedida é uma facada,
mas o seu sangue eu fervo à saudade, em banho maria.
e a noite logo chega,
antes de durmir, desejar boa noite
é necessário, para uma noite tranquila,
mesmo que esta, agora seja sem trema.

sábado, 27 de junho de 2009

*

noite que desabrocha, eu vou andar, seguir. Acredito numa noite sem carros e prédios. Acredito apenas no que não posso ver.

"Para Capitu, Machado
Para uma mulher, Clarice
Para Guimarães, Brasil
Na terceira margem do rio".

segunda-feira, 22 de junho de 2009

brinde de salvação

Ela sempre teve uma beleza impagável. Uma beleza que ainda não foi possível vender, uma estética não copiável. Porém, não era o exemplo de caráter.
Aos 12 saiu de casa, se prostituiu, vendeu seu corpo e sua alma, vendeu até sua retina. Aos 15 já estava grávida, parou com a prostituição, mas começou no tráfico de drogas. A vida não poderia acabar. Amor era de se duvidar, não era tão simples dizer que aquele rosto bonito amava, ou mesmo que havia sentimento naqueles dedos perfeitos. Aos 18 resolveu crescer, foi ao ocidente, conhecer, engravidou de não se sabe quem, e logo ao rio estava de volta. O tráfico não era sua atividade, mas sim a venda de armas, essa lhe dava mais dinheiro, sua filha precisava de um futuro melhor que o dela, sua filha merecia sorrir, acordava todo dia assim.
Alguns diziam que cresceu em pról de sua filha, tanto que aos 22 anos, quando já não tinha mais nada, suas filhas reclamavam de fome, não pensou duas vezes, apenas disse: Mamãe sempre pensou no teu melhor, mamãe sempre quis te dar o amor, se eu pudesse dava minha alma as duas, sem precisar repartir.
Procurou dar sua alma naquele momento as filhas, mas não foi suficiente. Deu algo melhor naquele momento; algo que acabasse com a fome, com a dor, com sentimento ruim. Não queria que a cabeça de suas filhas fosse de pensamentos: de desnaturada. Queria o melhor para elas, e não pensou três vezes. Pensou duas. E de coração, deu as filhas o que tinha do veneno para ratos, com todo o coração, ela colocou às bocas famintas.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

tarde, tarde, minha.


deve ser loucura,
mas a loucura é boa, faz bem. A mim.
gosto de ser louco, e louco serei, até
meu corpo agüentar.

beijo minha loucura,
agarro minha louca cura,
brindo loucura minha.
Não é ser subversivo, nem ser louco.

domingo, 14 de junho de 2009

Mais que Fernando Pessoa.

"As vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido." E "para viajar basta existir," pois "tenho em mim todos os sonhos do mundo" e "o mundo não se fez para pensarmos nele,"-"porque quem ama nunca sabe o que ama, nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar..."

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Nada em vão.

Ficava lendo o dia todo, mas era a todo momento. Só pensava naqueles livros, gigantes ou mesmo os minúsculos. Juro, tentei ler um, mas foi em vão, assim como foi em vão tentar esquecê- la.

Um dia pensei mudar; ler os resumos tirados da internet, até comprei um notebook pra isso, usava wi-fi, eu era moderno. Foi em vão esta atitude. Na quarta depois de ter lido tanto e relido mais ainda alguns resumos, fui eu, conversar com ela, eu até que tinha tal liberdade. Começei a falar de Camões, Machado de Assis, Aluísio de Azevedo, Augusto dos Anjos e até ousei falando de Virginia Woolf, ela me dissera que nunca leu nenhuma obra de nenhum dos escritores que lhe disse, alguns até mesmo mal sabia quem era. Me perguntava loucamente, como assim?

Tive uma outra idéia, absurda ou não, eu fiz. Já que passei dias e dias lendo aquelas obras, um tanto que insuportáveis, pensei em algo melhor, pra eu não derrubar o ovo da colher novamente, pensei em me aproximar de seus livros, olhar a capa, até fotografar se possível, para saber o que essa menina tanto lê, e assim ler também, e quem sabe casar com seus livros num futuro próximo. Mas esta, foi outra missão em vão.

A menina só andava com livros subliminares eu diria, capas de uma cor, sem título, sem editora, sem autor, mas dúvido que aqueles livros eram tão interessante e popular quanto o albúm branco do Beatles. Que menina astuta e não afeita ela era.

Já fazem quatro anos, estou no segundo colegial, e essa desvairada continua nesta nóia destes livros, e eu na vibe de sempre pensar nela, nos livros dela, na mente dela, no corpo dela, no beijo dela. Porquê ela me domina de tal forma? Ela consegue despertar em mim desejos que nem eu mesmo sabia que podia existir; desejos repugnados; íntimos; desejos que fujo às 24 horas de cada dia nesses quatro anos. Preferia me afogar e morrer sem ar, à morrer pensando nela e em suas provocações silenciosas. Desejo morrer na dor de um incêndio do que morrer na dor de não poder te amar livremente. Peço que largue os livros, e seu óculos do século retrasado e perca- se em meu corpo, no meu umbigo, na minha face. Mas sei que, pensar assim, também é em vão.

Mas ontem pensei que era dia de mudança, tinha tudo pra dar certo, tudo aconteceu ao contrário. Acordei no horário, tomei café, fui uniformizado, arrumei meu topete, lavei até o rosto e escovei os dentes, me olhei 14 vezes no espelho, 14 pois 1 + 4= 5 e cinco, este era o número dela da chamada, ela calçava 35, e era o 55° livro que acompanhei ela lendo. Então era óbvio: é hoje, ou era hoje. Era cinco de maio, tive a coragem, a maior coragem do mundo. Nem quando enfrentei uma teia de aranha do teto de casa foi com tanta coragem, isso contando com o momento que comi cada teia de aranha que residia no teto, os comi de raiva, de nojo, para que a aranha que mal gostava de mim nunca mais aparecesse. Foi em vão.

Cheguei cinco minutos mais cedo, sabia que ela já estaria lá. Sentei na quinta carteira, da quinta fileira. Agora ela ficava ao meu lado. Meu suor veio à tona. Minha vida se revelou, meu ziper abriu, e a brisa me congelou. Esperei cinco segundos, o tempo exato de respirar, retomar minha coragem e lhe dirigir a pergunta - Que tanto lê nestes seus livros? Ah, se eu soubesse que fosse tão difícil nem pensaria no mecanismo daquele dia. Ela, depois de 15 sgundos me respondeu, nada de mais, só algumas bobagens, você já pensou em ler bobagens? É óbvio que não, ela sabia que não, no máximo li aqueles resumos pra ter sua voz ao meu ouvido, mas como dizer isso, como mostrar pra ela minha profunda adimiração, como pedi- la em casamento. Já fugia de mim estas respostas. Ela me abriu um sorriso, e disse algumas palavras que parecia um livro de tanto que ela disse - Estas bobagens que tanto leio, que você tanto observa e tenta decifrar são meus livros, eu escrevo. Alguns são escritos quando bem pequena, quando você ainda nem pensava em ler, ou eu mesma. Sabe eu vi você me observar cada dia, não te observei pelo fato de eu não saber encarar alguém, seu olhar era forte demais pra eu poder ao menos levantar a cabeça, eu não quero criar um papo longo, nem mesmo criar um diálogo, não sou assim. Quero só te dar um livro, este da capa amarela. Leia. Não me diga o que achou, apenas o leia e não me olhe tanto.

Aquele dia sim, eu morri, morri que não consegui mais beber água por toda minha vida.

terça-feira, 2 de junho de 2009

São Paulo virou uma Woodstock



Em torno de 800 atrações no centro de São Paulo, eis a Virada Cultural Paulista; um encontro de ritmos e variadas formas de arte em aproximadamente 150 lugares no centro e no resto da cidade de São Paulo. A Virada Cultural completa cinco anos nesta edição e já é um evento esperado desde o início do ano pelos paulistanos e moradores de sua área metropolitana. Aproximadamente 4 milhões de pessoas, de acordo com o próprio site do evento, vindo de todas as partes do estado de São Paulo, e de outros estados estiveram presente.



Shows com produção de excelência, sem atrasos; grande equipe de segurança; apresentações de qualidade; ótima sinalização dos palcos do evento; são os pontos de positivos do evento. Mas, é claro, que como todo evento público, ainda mais do Estado, tem seus pontos negativos, e desta vez o que ganhou destaque foi o número grande de lixo na rua e o mal cheiro que predominava, e o pior de tudo, o número de lixeiras pelas ruas, praticamente zero.



"O problema mesmo é esse cheiro de maconha", frase que se ouvia em qualquer lugar do evento da prefeitura de São Paulo, o que não era uma mentira, principalmente durante a madrugada e logo de manhã em qualquer palco do centro, o que predominava era o cheiro da droga ilícita. Segurança havia, mas faltava atitude.



Uma pesquisa feita pela BVS (Biblioteca Virtual em Saúde) de 1992, em 20 faculdades da cidade de São Paulo constatou que cerca de 26% dos universitários já usaram maconha ao menos uma vez; 4% afirmam usar diariamente; e 14% relatam o uso da droga ilícita atualmente. Durante o evento que durou um período de 24 horas na cidade de São Paulo, ficou óbvio o uso de maconha na cidade por jovens, e até adultos, mas ainda o número maior de uso fica com os universitários.



Somente com o cheiro já se identificava com facilidade nas ruas o uso da maconha. Como disse a própria Baby do Brasil no seu show com Novos Baianos; "São Paulo virou uma Woodstock" (Festival que ocorreu entre o fim dos anos 60 e começo dos anos 70, exemplo da cultura hippie). São Paulo realmente virou Woodstock, a droga predominava assim como em Bethel (cidade rural em que foi organizado o festival hippie em New York). Os usuários de maconha da Virada Cultural pouco se importavam com a intenção do evento, ou mesmo com as famílias presentes, pois a qualquer momento um "baseado" poderia estar em sua mão. São Paulo fumou maconha durante o evento; mesmo os não-usuários da droga, utilizaram dela passivamente. De longe era perceptível um número em massa de utilização da droga somente pela fumaça que se formava acima do público, e conseqüentemente pelo seu cheiro, extremamente forte.



É difícil entender a posição do governo contra as drogas. Cheio de publicidade, levando em conta sempre a saúde da população, politicamente correto sempre, e quando se depara com um de seus maiores eventos da cidade, nenhuma atitude; nem ao menos pedir pra fumar distante das famílias que apenas queriam ver Zeca Baleiro ou mesmo um tributo ao Tim Maia.



Para uma droga como a maconha chegar na mão de um número tão grande de pessoas, existem aqueles que plantam, os que compram, e os que traficam: devem ser essas pessoas que dizem que a Virada é um evento que gera capital muito grande para a cidade de São Paulo.